Em BH, a cantora mostrou estar pronta para assumir um dos papéis principais da música brasileira, enquanto Dona Onete e Metaleiras da Amazônia mostravam a tradição da música do Pará. A noite teve também a mexicana Julieta Venegas.

A terceira noite do festival Conexão BH foi a melhor do evento este ano e a que teve maior presença de público. Com mais nomes de peso na programação, conseguiu reunir mais de 7 mil pessoas. O que chama mais atenção é que o público foi tão diverso quanto as atrações. Patricinhas, roqueiros, pessoal do movimento hip hop, hippies, hispters, playboys, artistas, tinha de tudo, o que dava um ar ainda mais interessante e ressaltava os méritos de um festival calcado exclusivamente naquilo que já foi chamado de música independente.

Com 13 anos de existência, a aparência mesmo é que o festival já atrai o público por si só. Independente de atrações, o público se interessa em conferir o evento e o que tiver na programação. Já faz parte da agenda da cidade e virou hábito de quem procura boa música em Belo Horizonte.

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Evidente que nessa terceira noite, haviam apelos especiais para o público ser ainda maior. Um deles era a mexicana Julieta Venegas, única atração internacional do evento, que se apresentava pela primeira vez na capital mineira. Ela abriu a noite num bonito show focado em seu novo disco, calmo, com canções falando do amor e num clima bem propício para o começo da programação.

Ao piano, tocando acordeon ou cantando, Venegas se revezava em esbanjar seu talento e doçura. Outro atrativo a mais, eram seus convidados que seguiam pelo mesmo caminho de manter o nível com doçura. Primeiro Fernanda Takai, depois Tulipa Ruiz e, em seguida, Otto, mais visceral, que apostou em sua parceira com a cantora, a bela “Saudade”.

Foram os shows das atrações brasileiras, no entanto, que fizeram o melhor na noite. Primeiro com uma sequência de música paraense de alto nível. Se para muitos é uma tendência atual, a produção do Pará tem uma longa história e foi parte disso que apareceu no festival. Primeiro com o grupo Metaleiras da Amazônia, formado por músicos veteranos com longa trajetória de música tipicamente paraense. O grupo botou todo mundo para dançar com um misto irresistível de lambada, carimbó e siriá tocado a base de instrumentos de sopros.

A participação dos mineiros Dokttor e Shabê deu um ar diferente e interessante, colocando rap no meio das metaleiras. Já o cantor paraense Juca Culatra trouxe elementos mais popularescos e óbvios.

Dentro desse clima de música do Pará, a veterana Dona Onete apresentou seu primeiro disco e continuou botando todo mundo para dançar. Aos 73 anos, só agora vem colhendo os frutos de anos de música, mas mesmo do alto da idade esbanjou simpatia, bom humor, vitalidade e uma música deliciosa, brincando com os ritmos paraenses com um tempero picante bem particular. Luê (PA) e Janaína Moreno foram as convidadas, mas ao lado e Dona Onete foram apenas coadjuvantes.

O show impressionante da noite foi o de Tulipa Ruiz. Se no primeiro disco ela ainda soava como uma menina fofa, agora assumiu a postura de cantora grandiosa que solta a voz sem medo. Cresceu e ganhou pleno domínio do palco, mostrando que anda a passos largos para assumir o posto de grande cantora da música brasileira.

O repertório mais denso em alguns momentos do novo disco contribui. Banda afiada, participação de Fernanda Takai, com direito a uma versão de “Mamãe Ama meu Revólver” do Pato Fu e um final arrebatador com a cantora soltando os bichos e a Gal que existe dentro dela na forte “Víbora”. Se o público lotou o Parque Municipal atrás de boa música, encontrou.