Acompanhado de banda e da OSBA, ícone baiano homenageou alguns de seus mestres, cantando Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga e Jimi Hendrix
Muito mais em clima de Santo Antônio do que de futebol, Gilberto Gil deu início nesta quinta-feira (13), num TCA praticamente lotado, ao projeto Cultura em Campo, programação artística paralela a Copa das Confederações. No palco, acompanhado de uma banda enxuta e da Orquestra Sinfônica da Bahia, Gil apresentou um repertório de músicas menos conhecidas, alguns sucessos e homenagens a alguns de seus mestres.
Com duração de quase duas horas, Gil se mostrou falante e à vontade, como se tocasse para amigos. Com ingresso a preço popular (R$ 1) o que se viu na plateia foi um público diverso, com jovens, adultos e idosos de diversas classes sociais.
Criado para comemorar os 70 anos do cantor, o show ‘Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo’ começou lento, mas já revelando o tom de saudação ao passado e olhar sobre o futuro e a modernidade. As clássicas ‘Eu Vim da Bahia’ e ‘Domingo no Parque’ fizeram um contraponto a ‘Máquina de Ritmo’, ‘Quanta’ e ‘Fruturível’. Essa última com direito a Gil contando a história do momento de criação, feita junto com outras três músicas, em plena ditadura militar, quando estava preso num quartel e um sargento ofereceu um violão.
“Tive alguns mestres, alguns especiais e um especialíssimo: Dorival Caymmi”, disse Gil
O passeio pela tradição e pela modernidade, seja com músicas mais recentes ou antigas, aconteceu durante todo show, reforçado pelo momento em que o cantor prestou homenagem a algumas de suas referências musicais. “Tive alguns mestres, alguns especiais e um especialíssimo: Dorival Caymmi”, disse, iniciando a sequência com ‘Saudade da Bahia’, do baiano; seguida por ‘Outra Vez’, de Tom Jobim.
Em outro momento contou a história de como conheceu rapidamente Jimi Hendrix em um show décadas atrás, para apresentar uma versão de ‘Up From the Skies’, não sem antes fazer reverência a Luiz Gonzaga, “Sempre há de ter havido um primeiro mestre, e entoou a clássica ‘Juazeiro’”.
Olhando pra frente, para um futuro inevitável, cantou sobre a morte, “percussionando” o violão com as mãos e interpretando sozinho no palco a belíssima ‘Não Tenho Medo da Morte’, no momento mais tocante do show. Seguida de outro belo momento: ‘Lamento Sertanejo’, dele e de Dominguinhos, em dueto com o violoncelo de Jaques Morelenbaum. Em outra sequência especial, emendou músicas em línguas estrangeiras: a já citada canção de Hendrix, em inglês; ‘Tres Palabras’, de Osvaldo Farrés, em espanhol; e ‘La Renaissance Africaine’, de sua autoria, em francês.
O título do show, ‘Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo’, é uma referência a formação enxuta do grupo de cinco músicos que o acompanha nessa turnê especial. Gil fez questão de apresentar, nas cordas, seu filho Ben Gil, no Violão, Jaques Morelembaum, no violoncelo, e Nicolá Krassik, no violino.
A Máquinas de Ritmo se dividia entre as “máquinas” naturais e antigas da percussão, a cargo do baiano Gustavo di Dalva, e as modernas e eletrônicas, a cargo de Eduardo Manso. Morelembaum e o maestro Carlos Prazeres se revezavam na regência da OSBA, que participou em mais das metades das músicas, com destaques para ‘Domingo no Parque’, ‘Panis et Circensis’ e o final com ‘Andar com Fé’.
Sem a mesma capacidade vocal de outros tempos, Gil consegue manter seu brilho, destacando o modo como interpreta e reinventando seu rico repertório. Do alto de seus 70 anos, seja com a banda, seja com o acompanhamento da orquestra, mostra ainda ser um dos maiores de nossa música.
Veja o set list do show:
1. Máquina de Ritmo (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
2. Eu Vim da Bahia (Gilberto Gil) – com banda
3. Domingo no Parque (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
4. Estrela (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
5. Quatro Coisas (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
6. Quanta (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
7. Futurível (Gilberto Gil) – com banda
8. Eu Descobri (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
9. Saudade da Bahia (Dorival Caymmi) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
10. Outra Vez (Tom Jobim) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
11. Não Tenho Medo da Morte (Gilberto Gil) – número solo de Gil
12. Lamento Sertanejo (Gilberto Gil e Dominguinhos) – com o violoncelo de Jaques Morelenbaum
13. Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) – com banda
14. Up From the Skies (Jimi Hendrix) – com banda
15. Tres Palabras (Osvaldo Farrés) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
16. La Renaissance Africaine (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
17. Panis et Circensis (Gilberto Gil e Caetano Veloso) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
18. Oriente (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
19. Expresso 2222 (Gilberto Gil) – com banda
20. Andar com Fé (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia
Bis:
21. Um Abraço no João (Gilberto Gil) – com banda
22. Domingo no Parque (Gilberto Gil) – com banda e Orquestra Sinfônica da Bahia